Emboscada
por Alexandre Heredia
Shirley desligou o motor de seu velho carro e suspirou. Pela janela observou a rua típica de periferia americana, com seus sobrados e jardins de cercas brancas. Sempre sonhou em possuir uma daquelas, mas infelizmente não era por aquele motivo que estava lá. Tirou os tênis e trocou-os pelos sapatos de salto que combinavam com o vestido. Do painel do carro recolheu o retângulo de metal com seu nome, que espetou em sua blusa. Puxou o retrovisor e verificou a maquiagem. Aparentemente nada fora do lugar.
"O que eu fiz de tão errado?", perguntou-se, enquanto olhava a pequena valise no banco do passageiro. O logotipo "AVON" parecia zombar dela. Diploma universitário, pós graduação, cinco anos de experiência corporativa, e de repente lá estava ela, precisando daquele tipo de bico para sobreviver. Um só revés e sua vida virou do avesso. Garota "AVON Chama". Ninguém merece.
Mas não adiantava ficar daquele jeito. Aceitara se sujeitar, não tinha porque se acovardar na última hora. Passou a noite inteira estudando a brochura que lhe foi fornecida. Se considerava, sem falsa modéstia, uma especialista em unhas e tipos de esmalte. Era naquilo que se focaria, aquele seria seu porto seguro. Só precisava sair do carro.
Abriu a porta e saiu para a calçada. Antes que conseguisse trancar a porta ouviu um farfalhar em uma sebe próxima. Virou-se, assustada, mas não viu nada. Sentiu-se uma estúpida. "Com medo do vento, Shirley?". Sacudiu as chaves, tentando novamente trancar a porta. Mas então ouviu um rosnado baixo, quase imperceptível, e o mato da sebe se moveu novamente. Agora não era o vento. Novo ruído, o rosnado mais alto. E se fosse um cachorro raivoso? Morria de medo de cachorros! Em pânico, enfiou a chave na fechadura da porta do carro e girou-a. Puxou a maçaneta e a porta não se mexeu. O ruído era bastante alto agora, impossível de não perceber. Ela tremia. Enfiou novamente a chave e desta vez conseguiu destrancar a porta. Mas assim que escancarou-a, um silvo chegou a seus ouvidos, e um baque atingiu suas costas. Gritou. Não era um cachorro!
O que era?! Hein? Hein?
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Shirley desligou o motor de seu velho carro e suspirou. Pela janela observou a rua típica de periferia americana, com seus sobrados e jardins de cercas brancas. Sempre sonhou em possuir uma daquelas, mas infelizmente não era por aquele motivo que estava lá. Tirou os tênis e trocou-os pelos sapatos de salto que combinavam com o vestido. Do painel do carro recolheu o retângulo de metal com seu nome, que espetou em sua blusa. Puxou o retrovisor e verificou a maquiagem. Aparentemente nada fora do lugar.
"O que eu fiz de tão errado?", perguntou-se, enquanto olhava a pequena valise no banco do passageiro. O logotipo "AVON" parecia zombar dela. Diploma universitário, pós graduação, cinco anos de experiência corporativa, e de repente lá estava ela, precisando daquele tipo de bico para sobreviver. Um só revés e sua vida virou do avesso. Garota "AVON Chama". Ninguém merece.
Mas não adiantava ficar daquele jeito. Aceitara se sujeitar, não tinha porque se acovardar na última hora. Passou a noite inteira estudando a brochura que lhe foi fornecida. Se considerava, sem falsa modéstia, uma especialista em unhas e tipos de esmalte. Era naquilo que se focaria, aquele seria seu porto seguro. Só precisava sair do carro.
Abriu a porta e saiu para a calçada. Antes que conseguisse trancar a porta ouviu um farfalhar em uma sebe próxima. Virou-se, assustada, mas não viu nada. Sentiu-se uma estúpida. "Com medo do vento, Shirley?". Sacudiu as chaves, tentando novamente trancar a porta. Mas então ouviu um rosnado baixo, quase imperceptível, e o mato da sebe se moveu novamente. Agora não era o vento. Novo ruído, o rosnado mais alto. E se fosse um cachorro raivoso? Morria de medo de cachorros! Em pânico, enfiou a chave na fechadura da porta do carro e girou-a. Puxou a maçaneta e a porta não se mexeu. O ruído era bastante alto agora, impossível de não perceber. Ela tremia. Enfiou novamente a chave e desta vez conseguiu destrancar a porta. Mas assim que escancarou-a, um silvo chegou a seus ouvidos, e um baque atingiu suas costas. Gritou. Não era um cachorro!
O que era?! Hein? Hein?
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