Em Nome de Quem?
©Alexandre Heredia
- Quanto tempo será que ainda leva?
- Shiu!
- Ela já está assim há seis dias. Quanto tempo mais pode suportar?
- Irmã Ecaterina, volte a suas preces imediatamente!
- Sim, senhora. Eu só...
- Constrição, irmã. Apenas suas preces podem ajudar a irmã Irina no momento.
- Sim, senhora.
Quatro cabeças tornaram a se baixar debaixo de seus hábitos. Irmã Iulia sentia as juntas do joelho doerem, mas se recusava a reclamar. Era apenas um pequeno sacrifício, nada em comparação com o que deveria estar passando irmã Irina, que naquele momento se encontrava dentro de seu claustro, tendo como companhia apenas o padre Daniel. Seu mentor. Seu confessor.
Seu exorcista.
Os versos em latim saíam automaticamente de sua boca, mas sua mente vagava. Diferente de Iulia, que havia chegado ao convento aos onze anos, Irina estava lá desde bebê, quando fora abandonada na roda por alguma mãe desesperada. Nunca conhecera outro mundo além dos muros do convento. Aos 23 anos todos imaginavam que os impulsos da juventude já haviam amainado. Mesmo assim, eram freqüentes as vezes que ela a havia flagrado trocando olhares de soslaio com o padre Daniel.
Benzeu-se para livrar sua mente de pensamentos perversos. Que moral ela tinha para julgá-la?
A porta do claustro se abriu, e por ela surgiu um padre Daniel abatido e exausto. Seu cabelo loiro bonito estava desgrenhado e empapado de suor, seus olhos azuis estavam fundos e pesados, e sua pele mais clara que o habitual. Mesmo assim não havia perdido seu porte elegante. Em sua batina era possível reconhecer algumas manchas avermelhadas de sangue.
- Irmã Ana - disse ele, chamando a Madre Superiora. - Preciso de sua ajuda.
A Madre imediatamente se levantou, benzendo-se. Padre Daniel entrou novamente no claustro, sendo seguido de perto por ela. Iulia ainda tentou ver o interior do recinto, mas foi impossível.
- O que será que aconteceu? - perguntou irmã Ecaterina.
- Será que já terminou? - desta vez era irmã Maria.
- Meninas, vamos continuar rezando.
As cabeças se baixaram novamente, mas antes que a ladainha recomeçasse, irmã Ecaterina falou de novo.
- Ela está com o Diabo no corpo.
- Irmã!
- É verdade! Eu a vi falar com uma voz que não era a dela. Obscenidades abomináveis - benzeu-se. - Como alguém como a irmã Irina poderia conhecer tais termos?
- O que você está sugerindo? - perguntou Iulia.
- Que se não for o Diabo, então...
- Cale essa boca, irmã - irritou-se - Esses mexericos não vão levar a nada!
- Desculpe irmã.
Iulia recomeçou a reza, mas foi interrompida novamente.
- Já viu como ela e o padre Daniel...
- Irmã Ecaterina! Pare com isso, ou serei obrigada a denunciá-la à Madre Superiora!
- Eu, hein, Iulia! Será que suas estimadas ervas estão nublando seu julgamento? Até parece que você não se pergunta às vezes o que eles fazem tanto tempo na sacristia...
- Isso não é da sua conta, e nem minha! O padre Daniel é um santo homem, e não merece ser alvo de tamanha calúnia. Eu mesmo já passei horas sozinha com ele, você bem sabe. E ninguém me vê gritando obcenidades aos quatro ventos, vê? Se o que você diz é verdade, se o Diabo realmente se apossou do corpo de irmã Irina, padre Daniel é a pessoa mais indicada para salvá-la. Não há no mundo homem mais pio, nem mesmo o próprio cardeal, isso eu posso garantir!
- Mas...
- Shiu!
A porta do clautro novamente se abriu. Por ela passou a Madre Superiora. Seu rosto severo fazia de tudo para parecer calmo, mas suas mãos trêmulas denunciavam seu estado de espírito.
- Está acabado - anunciou ela. - Irmã Ecaterina, por favor arrume os aposentos do padre. Ele precisará de muito descanso depois de tudo isso. Irmã Iulia, o padre Daniel pediu que você cuidasse pessoalmente dos preparativos a partir de agora. Ele disse que você sabe o que fazer, e que esta será a sua penitência. Não sei qual foi o seu pecado, mas tenho certeza que será punição suficiente.
Ecaterina e Maria se entreolharam, sem entender nada. Iulia apenas baixou a cabeça, aceitando o destino. O manto de seu hábito escorreu por sua cabeça, encobrindo suas feições.
Só então ela se permitiu sorrir.
Entre no claustro junto com Irmã Iulia:
http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI564554-EI294,00.html
- Quanto tempo será que ainda leva?
- Shiu!
- Ela já está assim há seis dias. Quanto tempo mais pode suportar?
- Irmã Ecaterina, volte a suas preces imediatamente!
- Sim, senhora. Eu só...
- Constrição, irmã. Apenas suas preces podem ajudar a irmã Irina no momento.
- Sim, senhora.
Quatro cabeças tornaram a se baixar debaixo de seus hábitos. Irmã Iulia sentia as juntas do joelho doerem, mas se recusava a reclamar. Era apenas um pequeno sacrifício, nada em comparação com o que deveria estar passando irmã Irina, que naquele momento se encontrava dentro de seu claustro, tendo como companhia apenas o padre Daniel. Seu mentor. Seu confessor.
Seu exorcista.
Os versos em latim saíam automaticamente de sua boca, mas sua mente vagava. Diferente de Iulia, que havia chegado ao convento aos onze anos, Irina estava lá desde bebê, quando fora abandonada na roda por alguma mãe desesperada. Nunca conhecera outro mundo além dos muros do convento. Aos 23 anos todos imaginavam que os impulsos da juventude já haviam amainado. Mesmo assim, eram freqüentes as vezes que ela a havia flagrado trocando olhares de soslaio com o padre Daniel.
Benzeu-se para livrar sua mente de pensamentos perversos. Que moral ela tinha para julgá-la?
A porta do claustro se abriu, e por ela surgiu um padre Daniel abatido e exausto. Seu cabelo loiro bonito estava desgrenhado e empapado de suor, seus olhos azuis estavam fundos e pesados, e sua pele mais clara que o habitual. Mesmo assim não havia perdido seu porte elegante. Em sua batina era possível reconhecer algumas manchas avermelhadas de sangue.
- Irmã Ana - disse ele, chamando a Madre Superiora. - Preciso de sua ajuda.
A Madre imediatamente se levantou, benzendo-se. Padre Daniel entrou novamente no claustro, sendo seguido de perto por ela. Iulia ainda tentou ver o interior do recinto, mas foi impossível.
- O que será que aconteceu? - perguntou irmã Ecaterina.
- Será que já terminou? - desta vez era irmã Maria.
- Meninas, vamos continuar rezando.
As cabeças se baixaram novamente, mas antes que a ladainha recomeçasse, irmã Ecaterina falou de novo.
- Ela está com o Diabo no corpo.
- Irmã!
- É verdade! Eu a vi falar com uma voz que não era a dela. Obscenidades abomináveis - benzeu-se. - Como alguém como a irmã Irina poderia conhecer tais termos?
- O que você está sugerindo? - perguntou Iulia.
- Que se não for o Diabo, então...
- Cale essa boca, irmã - irritou-se - Esses mexericos não vão levar a nada!
- Desculpe irmã.
Iulia recomeçou a reza, mas foi interrompida novamente.
- Já viu como ela e o padre Daniel...
- Irmã Ecaterina! Pare com isso, ou serei obrigada a denunciá-la à Madre Superiora!
- Eu, hein, Iulia! Será que suas estimadas ervas estão nublando seu julgamento? Até parece que você não se pergunta às vezes o que eles fazem tanto tempo na sacristia...
- Isso não é da sua conta, e nem minha! O padre Daniel é um santo homem, e não merece ser alvo de tamanha calúnia. Eu mesmo já passei horas sozinha com ele, você bem sabe. E ninguém me vê gritando obcenidades aos quatro ventos, vê? Se o que você diz é verdade, se o Diabo realmente se apossou do corpo de irmã Irina, padre Daniel é a pessoa mais indicada para salvá-la. Não há no mundo homem mais pio, nem mesmo o próprio cardeal, isso eu posso garantir!
- Mas...
- Shiu!
A porta do clautro novamente se abriu. Por ela passou a Madre Superiora. Seu rosto severo fazia de tudo para parecer calmo, mas suas mãos trêmulas denunciavam seu estado de espírito.
- Está acabado - anunciou ela. - Irmã Ecaterina, por favor arrume os aposentos do padre. Ele precisará de muito descanso depois de tudo isso. Irmã Iulia, o padre Daniel pediu que você cuidasse pessoalmente dos preparativos a partir de agora. Ele disse que você sabe o que fazer, e que esta será a sua penitência. Não sei qual foi o seu pecado, mas tenho certeza que será punição suficiente.
Ecaterina e Maria se entreolharam, sem entender nada. Iulia apenas baixou a cabeça, aceitando o destino. O manto de seu hábito escorreu por sua cabeça, encobrindo suas feições.
Só então ela se permitiu sorrir.
Entre no claustro junto com Irmã Iulia:
http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI564554-EI294,00.html