Antelóquios

  O que são exatamente Antelóquios? De acordo com o dicionário:

antelóquio: do Lat. anteloquiu; s. m., aquilo que se diz antes; prefácio; prólogo.

No caso, Antelóquio nada mais é que um exercício literário simples. Pega-se uma notícia real, disponível aos borbotões na Internet, e cria-se uma ficção anterior ao fato narrado. Só isso. Não há compromisso com a verdade. Não há preocupação com os envolvidos. Simplesmente é utilizado um fato real para inspirar uma narrativa fictícia. Gostou da idéia? Faça um Antelóquio e me mande. Quem sabe eu não coloco aqui, junto com os meus? Notícias bizarras acontecem todos os dias, apenas aguardando que alguém inspirado as aproveite. Quer exemplos? Abaixo segue uma sequência de Antelóquios criados por mim.

ATENÇÃO: Todos os textos aqui expostos são trabalhos de FICÇÃO. A responsabilidade pela veracidade dos fatos das notícias referidas é totalmente dos veículos apontados. Caso a exploração de alguma notícia ofenda ou difame alguém pessoalmente, peço que entre em contato comigo, que ela será imediatamente retirada.
 


Thursday, June 23, 2005

Em Nome de Quem?

©Alexandre Heredia

- Quanto tempo será que ainda leva?

- Shiu!

- Ela já está assim há seis dias. Quanto tempo mais pode suportar?

- Irmã Ecaterina, volte a suas preces imediatamente!

- Sim, senhora. Eu só...

- Constrição, irmã. Apenas suas preces podem ajudar a irmã Irina no momento.

- Sim, senhora.

Quatro cabeças tornaram a se baixar debaixo de seus hábitos. Irmã Iulia sentia as juntas do joelho doerem, mas se recusava a reclamar. Era apenas um pequeno sacrifício, nada em comparação com o que deveria estar passando irmã Irina, que naquele momento se encontrava dentro de seu claustro, tendo como companhia apenas o padre Daniel. Seu mentor. Seu confessor.

Seu exorcista.

Os versos em latim saíam automaticamente de sua boca, mas sua mente vagava. Diferente de Iulia, que havia chegado ao convento aos onze anos, Irina estava lá desde bebê, quando fora abandonada na roda por alguma mãe desesperada. Nunca conhecera outro mundo além dos muros do convento. Aos 23 anos todos imaginavam que os impulsos da juventude já haviam amainado. Mesmo assim, eram freqüentes as vezes que ela a havia flagrado trocando olhares de soslaio com o padre Daniel.

Benzeu-se para livrar sua mente de pensamentos perversos. Que moral ela tinha para julgá-la?

A porta do claustro se abriu, e por ela surgiu um padre Daniel abatido e exausto. Seu cabelo loiro bonito estava desgrenhado e empapado de suor, seus olhos azuis estavam fundos e pesados, e sua pele mais clara que o habitual. Mesmo assim não havia perdido seu porte elegante. Em sua batina era possível reconhecer algumas manchas avermelhadas de sangue.

- Irmã Ana - disse ele, chamando a Madre Superiora. - Preciso de sua ajuda.

A Madre imediatamente se levantou, benzendo-se. Padre Daniel entrou novamente no claustro, sendo seguido de perto por ela. Iulia ainda tentou ver o interior do recinto, mas foi impossível.

- O que será que aconteceu? - perguntou irmã Ecaterina.

- Será que já terminou? - desta vez era irmã Maria.

- Meninas, vamos continuar rezando.

As cabeças se baixaram novamente, mas antes que a ladainha recomeçasse, irmã Ecaterina falou de novo.

- Ela está com o Diabo no corpo.

- Irmã!

- É verdade! Eu a vi falar com uma voz que não era a dela. Obscenidades abomináveis - benzeu-se. - Como alguém como a irmã Irina poderia conhecer tais termos?

- O que você está sugerindo? - perguntou Iulia.

- Que se não for o Diabo, então...

- Cale essa boca, irmã - irritou-se - Esses mexericos não vão levar a nada!

- Desculpe irmã.

Iulia recomeçou a reza, mas foi interrompida novamente.

- Já viu como ela e o padre Daniel...

- Irmã Ecaterina! Pare com isso, ou serei obrigada a denunciá-la à Madre Superiora!

- Eu, hein, Iulia! Será que suas estimadas ervas estão nublando seu julgamento? Até parece que você não se pergunta às vezes o que eles fazem tanto tempo na sacristia...

- Isso não é da sua conta, e nem minha! O padre Daniel é um santo homem, e não merece ser alvo de tamanha calúnia. Eu mesmo já passei horas sozinha com ele, você bem sabe. E ninguém me vê gritando obcenidades aos quatro ventos, vê? Se o que você diz é verdade, se o Diabo realmente se apossou do corpo de irmã Irina, padre Daniel é a pessoa mais indicada para salvá-la. Não há no mundo homem mais pio, nem mesmo o próprio cardeal, isso eu posso garantir!

- Mas...

- Shiu!

A porta do clautro novamente se abriu. Por ela passou a Madre Superiora. Seu rosto severo fazia de tudo para parecer calmo, mas suas mãos trêmulas denunciavam seu estado de espírito.

- Está acabado - anunciou ela. - Irmã Ecaterina, por favor arrume os aposentos do padre. Ele precisará de muito descanso depois de tudo isso. Irmã Iulia, o padre Daniel pediu que você cuidasse pessoalmente dos preparativos a partir de agora. Ele disse que você sabe o que fazer, e que esta será a sua penitência. Não sei qual foi o seu pecado, mas tenho certeza que será punição suficiente.

Ecaterina e Maria se entreolharam, sem entender nada. Iulia apenas baixou a cabeça, aceitando o destino. O manto de seu hábito escorreu por sua cabeça, encobrindo suas feições.

Só então ela se permitiu sorrir.

Entre no claustro junto com Irmã Iulia:
http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI564554-EI294,00.html

Tuesday, June 07, 2005

Pernas Para Que Te Quero!

© Alexandre Heredia

Nick usou as costas da mão direita para enxugar o suor que escorria de sua testa, e com a esquerda coçou o traseiro por sobre o calção. Estava louco para tomar uma cerveja, mas por causa da inflamação em seu joelho tinha que se contentar com o suco de laranja. "Porcaria de antibiótico", pensou.

De sua espreguiçadeira podia ver claramente a grama de seu jardim crescendo. Pam se recusava a passar o cortador. Dizia que estragava suas unhas. E por causa disso o quintal estava se transformando em um viveiro de mosquitos. E a situação iria piorar com a chegada do verão.

"Fazer o quê?", pensou Nick, enquanto se ajeitava na cadeira. Seu joelho estava detonado. Não tinha como guiar o velho cortador pela grama. Na verdade, havia pouca coisa que ele pudesse fazer além de ficar sentado. "Maldita hora que aceitei jogar aquela partida de soccer!", resmungou. Aquilo não era esporte, era uma maldita mania européia que estava roubando o público do verdadeiro esporte americano: o baseball.

Mas o pessoal do escritório havia montado um time, e ele aceitou participar apenas para não ser excluído do grupo. Sabia como aquele tipo de coisa contava na hora de um corte. E ele já havia passado dos 35 anos, não podia arriscar uma demissão.

"Tudo que eu queria", pensou, amargurado, "era fazer um transplante dessa perna. Colocar uma perna igual a daqueles negros africanos, que nem a do Carl Lewis. Aí os caras iriam ver quem ia se machucar numa disputa de bola!".

Seus devaneios foram interrompidos por um assovio contínuo, vindo do alto. Ergueu os olhos mas se ofuscou com o sol brilhante. Espremeu as pálpebras, mas não conseguiu reconhecer a origem daquele som crescente.

De repente, sem aviso, seu quintal explodiu. Não uma grande explosão, mas o suficiente para ser notada. Grama alta e terra seca voaram para todo lado. Assustou-se, e quase caiu da espreguiçadeira. Com os olhos arregalados olhou para a pequena cratera formada em seu quintal, percebendo que havia algo disforme lá dentro.

Sem retirar os olhos do ponto de impacto, ergueu-se com esforço. Mancou até o lugar.

- Goddammit...

O que será que caiu lá? Clique no link abaixo e descubra:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2005/06/050608_aviaonyms.shtml