Antelóquios

  O que são exatamente Antelóquios? De acordo com o dicionário:

antelóquio: do Lat. anteloquiu; s. m., aquilo que se diz antes; prefácio; prólogo.

No caso, Antelóquio nada mais é que um exercício literário simples. Pega-se uma notícia real, disponível aos borbotões na Internet, e cria-se uma ficção anterior ao fato narrado. Só isso. Não há compromisso com a verdade. Não há preocupação com os envolvidos. Simplesmente é utilizado um fato real para inspirar uma narrativa fictícia. Gostou da idéia? Faça um Antelóquio e me mande. Quem sabe eu não coloco aqui, junto com os meus? Notícias bizarras acontecem todos os dias, apenas aguardando que alguém inspirado as aproveite. Quer exemplos? Abaixo segue uma sequência de Antelóquios criados por mim.

ATENÇÃO: Todos os textos aqui expostos são trabalhos de FICÇÃO. A responsabilidade pela veracidade dos fatos das notícias referidas é totalmente dos veículos apontados. Caso a exploração de alguma notícia ofenda ou difame alguém pessoalmente, peço que entre em contato comigo, que ela será imediatamente retirada.
 


Tuesday, March 29, 2005

A ESCLEROSE DO VELHO ASTRO

Enviado por Giorgio Cappelli

Septuagenário, ele não conseguia mais reconhecer seus amigos, sua esposa e sequer seu
cão, que ficava Pluto da vida com isso. Por horas a fio, o astro olhava para um ponto fixo na parede adiante e, do nada, dizia frases desconexas. Xingava um amigo de pateta e dizia que o outro era um pato.

– É a idade! – lastimava-se a esposa, enxugando uma lágrima com a mãozinha enluvada.

– Quac! Precisamos fazer alguma coisa! – esbravejou o amigo que tinha sido chamado de
pato, batendo o punho na palma da mão.

– Iac! – apoiou o amigo denominado pateta. – Mas o quê?

– Vamos falar com aquele médico/cientista com sotaque alemão! Ele com certeza terá uma solução para isso! – afirmou o emplumado.

Tempos depois, os amigos do astro o levavam para o laboratório do referido cientista. Este examinou o astro caquético, gagá e coroca, e deu seu veredicto nada otimista:

– Essa amigo de focês prrecisa te um trratamento urrjente parra currar esse
esclerrôsse! Eu sô fêcho uma alterrnativa: trratamento kon cêlulas-trronco! Pegamos umas de uns embrriões, inoculamos nele e, tentrro de alguns messes, ela prroduzirrá neurrônios nofinhos em folha! E ela fai foltarr a serr o mesma te semprre!

– Embriões? – ofendeu-se a esposa do astro – Nada disso! Sou contra esse tipo de atitude! Minha religião não permite!

– Iac! Eu também!

– Quac! Idem!

O cão latiu favoravelmente aos três.

– Entôm nom resta muito a fassêrr porr sua amigo!

– Deve haver outra hipótese! – soluçava a esposa – Juro pelos meus bigodes que eu faria qualquer coisa que pudesse salvá-lo!

Então o cientista ergueu uma sobrancelha e sorriu.

Para saber se essa história vai acabar bem, clique no link abaixo...
http://br.news.yahoo.com/050329/25/swyn.html

Monday, March 28, 2005

Especial De Páscoa

© Alexandre Fernandes Heredia

"Calma, Bryan, é um trabalho como qualquer outro."

Ele precisava manter aquilo em mente. Pouco importavam os xingamentos, pedidos incoerentes, choros, esperneios ou fraldas vazando. Era só um trabalho comum, que pagaria relativamente bem e ajudaria a custear a passagem para Hollywood.

É, Bryan queria ser ator. Desde criança, quando participou de sua primeira peça na escola. Não se esquecia de sua única fala: "Bom dia, Sol", vestido de sátiro. Era uma adaptação infantil de "Sonhos de Uma Noite de Verão", de Shakespeare. Tinha sido tão adaptada que pouco restara do texto original, mas serviu para que o pequeno Bryan descobrisse sua verdadeira vocação.

Desde então, participou de todas as peças da escola. Agora, terminado o colegial, sonhava em ir para Hollywood, fazer um curso sério, e virar estrela. Simples na idéia, complicado na execução. Seu pai não tinha o dinheiro para a passagem e estadia no começo, até que arrumasse algum trabalho, e ele precisava se virar. Em Bay City, isso significava só uma coisa para um aspirante a ator: bicos em shopping centers, fazendo promoções fantasiado em praças de alimentação ou de eventos.

Não era seu primeiro trabalho do gênero. Já tinha sido um Peru de Ação de Graças, Papai Noel no Natal, Cavaleiro Sem Cabeça no Halloween, e até mesmo um Leprechaun no dia de St. Patrick. E, obviamente, na Páscoa ele havia sido novamente chamado.

A fantasia de coelho não era das piores. Pelo menos era mais confortável que a de Peru, e ele não precisava usar máscara, apenas uma pintura característica (focinho, bigodes e bochecha). Mas esse alívio era nublado pela interminável fila de crianças desagradáveis que ele tinha que atender. Felizmente haviam feito um cenário interessante, e ele podia permanecer o dia todo sentado, imitando Papai Noel. As crianças vinham, conversavam com ele, e iam embora. Algumas passavam mais de cinco minutos desfiando a lista de ovos e presentes que elas queriam. Outras ficavam mudas de medo. A maioria chorava. Algumas pulavam em seu colo, empolgadas demais para falar. Uma pulou tanto que vomitou, felizmente longe de sua fantasia.

E cada vez que uma criança se afastava, Bryan repetia seu mantra. “Um trabalho como qualquer outro”. E lá vinha mais uma para seu colo.

Nesse emprego é difícil guardar fisionomias, mas Bryan reconheceu o garoto assim que ele despontou na fila. Ruivo, sardento, gordo de tanto hamburger e milk-shake. Tinha o hábito desagradável de cutucar o nariz e guardar a meleca no bolso da jardineira jeans. Os olhos quase desapareciam na banha de seu rosto rechochudo demais para a idade, mas o pouco que se via já transparecia uma maldade que apenas os garotos do doze anos possuem. Uma coisa que não se explica em palavras, apenas se pune com os habituais castigos e palmadas.

Ele estivera no colo de Bryan no dia anterior. Ficou calado por quase um minuto, ignorando as frases coringa que ouvia do “coelho”. Depois riu, cutucou o nariz, e chamou-o de “viadinho” antes de saltar de seu colo. E agora lá estava ele de novo na fila. Bryan respirou fundo. “Um trabalho como qualquer outro”.

Quando chegou a vez da peste, Bryan pensou em pedir a seu supervisor uma pausa, mas sabia que seu pedido seria recusado. A fila estava imensa, e o shopping em seu horário mais movimentado. O moleque sentou em seu colo, ainda cutucando o nariz. Será que ninguém mais educa as crianças hoje em dia?

Estalou o pescoço, respirou fundo novamente, e começou a disparar suas falas. Um trabalho como qualquer outro. O que poderia acontecer de errado?

O que será? Descubra em:
http://noticias.terra.com.br/popular/interna/0,,OI495033-EI1140,00.html

Thursday, March 24, 2005

DOIS AMERICANOS E UM FAST-FOOD

© Alexandre Fernandes Heredia

- Brad, por favor...

- Não vem, não Jenn. Já te disse, esse lance de fast-food é tudo um lixo.

- Mas, Brad, só um dia...

- Você sabe o que eles colocam nessa carne? É tudo porcaria! Resto que nem avestruz come. Sabe o Rover?

- Rover?

- Meu cachorro, dammit! Então, ele come de tudo. Comeu até o forro de gesso do porão. Um dia a gente deu pra ele o resto de um sanduíche do McDonald's. Sabe o que ele fez? Sabe?

- Brad...

- Ele recusou! For Christ sake, Jenn, aquele cachorro fodido come até gesso! Isso não te diz nada?

- Mas aqui não é o McDonald's. A Sally veio aqui com o Jeff, e disse que é ótimo.

- A Sally não sabe nada. Stupid bitch. E o Jeff come qualquer merda. Ele come até hot-dog de estádio!

- Qual o problema?

- Você sabe como são feitas as salsichas? Sabe? Aquilo é tripa e restos de porco moídos com sangue e jornal! Eu li isso numa revista! Disgusting!

- E daí, Brad? Todo mundo come...

- Eu não sou todo mundo.

- Brad, a gente tá atrasado. Não dá pra abrir uma exceção?

- Fuck! Tá bom! Pede um chilli para mim. Sem pimenta, por favor.

- Só um chilli? Não quer um megaburguer?

- Chilli, plain and standard, e um suco de laranja. Só isso.

Descubra o fim da história clicando no link abaixo:
http://noticias.terra.com.br/popular/interna/0,,OI493664-EI1141,00.html

Thursday, March 17, 2005

O ULE LHEE

© Alexandre Fernandes Heredia

"Água. Muita água!", pensou Rassa enquanto caminhava entre os escombros.

Foi muito rápido. Não foi que nem nos filmes que ela tinha assistido com Raj, seu namorado (onde estaria Raj?). Foi como uma enchente sem chuva. A água começou a subir, subir, subir... Tragou carros, pessoas, vidas. Milhares delas.

Rassa vagava pelos escombros. O chão ainda estava encharcado, apesar de terem se passados meses desde a tragédia. Poucos se aproximavam daquele local. Tinham medo. Menos Zeki. Imortal em seus 21 anos, Zeki vasculhava os restos de civilização destruída com uma curiosidade mórbida. Dava risos nervosos enquanto saltava carcaças de automóveis e postes de luz tombados, apenas para sair correndo apavorado em seguida. E voltava toda noite, assim como Rassa.

Mas ela não tinha medo. Algo que não compreendia a atraía para aquele lugar. Uma busca sem objetivo, mas que não conseguia abandonar. E vagava, escondida pelas sombras infelizmente constantes naquele lugar amaldiçoado. Ule Lhee. Era um bairro bonito à beira mar. Agora é só um cemitério misturado com um ferro-velho.

De repente Rassa sentiu que não estava sozinha. Em pouco tempo a sensação se confirmou. Uma criança nua a acompanhava. Tinha o olhar perdido de órfã, e os poucos cabelos empastados colados no crânio e face.

- Você está ouvindo? - disse ela. Rassa apurou os sentidos, mas não ouviu nada. - Alfairus me chama.

Rassa não gostava de Alfairus. Dukun charlatão. Sempre aproveitava o momento de perda e dor de alguém para lucrar.

- Não ouço nada - disse ela. - Está enganada. Sou Rassa. Qual o seu nome?

- Não sei. Não perguntei. Não me disseram.

Rassa encolheu-se. Não era a primeira que encontrava naquele estado. Era difícil para todos. Tentou expressar seu pesar em forma de carinho, mas a menina não pareceu se importar com isso. Olhava para frente, e começou a andar naquela direção. Rassa a seguiu.

Algum tempo depois chegaram a uma casa. Era o "templo" de Alfairus. Dezenas de pessoas choravam lá dentro. No "altar" uma mulher pranteava com o rosto coberto por um lenço negro. Alfarius, ao seu lado, parecia estar em transe. No canto da sala, repórteres britânicos anotavam tudo. Queria sair dali. Não apreciava aquele teatro macabro, mas quando tentou puxar a menina, ela se desvencilhou.

- Mamãe - suspirou ela, olhando para a mulher no altar. Rassa se compadeceu.

- Vá até lá. Fale com ela.

Rassa acompanhou com o olhar a menina caminhar nua por entre a pequena multidão. Ela parecia mais indefesa do que quando a encontrara. Quando chegou perto da mãe, agarrou-a no vestido, mas não recebeu resposta.

Rassa sabia que era hora de intervir. Aproximou-se de Alfarius, que parecia realmente estar num transe, como se estivesse sob o efeito de ópio, e sussurrou em seu ouvido:

- Deixe-as em paz. Liberte-as. A menina está morta. Não há volta. Não tome mais o dinheiro de ninguém.

"Sinto muito. Não busques mais, tua filha está morta", declarou Alfairus, depois de uns segundos de silêncio sepulcral. O repórter disparou sua caneta, empolgado com a revelação.

Rassa pegou a mão da menina e retirou-a de lá. Não sabia onde levá-la, mas sabia que com certeza as respostas para ambas não estariam naquele lugar.

Retornou, lentamente, para o bairro devastado pela onda. Para seus pares, que aos poucos surgiam, às vezes para fugirem para o mar que os vitimou, às vezes para procurar entes queridos, às vezes apenas para vagar sem rumo ou objetivo. Como ela.

O ronco do jipe de Zeki soava ao fundo. Rassa ignorou. Agarrou a mão da menina e adentrou novamente o Ule Lhee. A Cidade dos Mortos.

Entenda essa história, seguindo o link abaixo:
http://ultimosegundo.ig.com.br/materias/mundo/1901001-1901500/1901404/1901404_1.xml

VIAGEM FELINA

© Alexandre Fernandes Heredia

Cuddle Bug, ou CB, como sua dona o chamava, espreguiçou-se indolentemente. Adorava o banco de trás do carro de Torri. Lá ele podia aproveitar o sol sem a interferência incômoda do vento frio da manhã, e lamber seus pelos com toda a calma que só os felinos parecem possuir.

Era seu prazer diário. Torri sempre deixava a porta de trás aberta, para que ele pudesse se esgueirar para seu lugar preferido antes que a dona despertasse. Aí ela o tirava de lá, e partia para o trabalho, deixando para CB o resto da casa. Não que ele preferisse, mas não tinha muita opção.

Naquela manhã o sol estava especial, na temperatura certa. CB lambeu com cuidado cada pedaço de seu pelo alaranjado. Limpou os bigodes, e esfregou as patas dianteiras na nuca, lambendo-as em seguida. Todo seu pelo estava semi-arrepiado, de modo a aproveitar cada raio de sol que batia em seu corpo. Era o mais próximo do paraíso que um gato poderia chegar.

Foi quando Torri chegou. CB virou as orelhas para trás, demonstrando que não gostaria de ser tirado do carro, mas sua súplica foi ignorada. Como última esperança, fincou as garras no estofado, mas mesmo assim não conseguiu evitar ser retirado de seu lugar predileto, além de levar uma bronca por ter puxado um fio do tecido. Nem os carinhos habituais o deixaram mais animado. Consolo mais besta!

Assim que foi deixado no chão da garagem, CB sentou e observou a dona pegar a bolsa em cima da lavadora, e posicionar-se no assento do motorista. Assustou-se como sempre com a ignição do motor, mas daquela vez ele não fugiria para sua cama fria embaixo da escada. Nada no mundo o tiraria de seu lugar predileto, nem mesmo Torri.

Descubra como a história termina em:
http://noticias.terra.com.br/popular/interna/0,,OI482110-EI1141,00.html

ANTI-CLÍMAX

© Alexandre Fernandes Heredia


Mão naquilo, aquilo na mão, esfrega, esfrega, línguas entrelaçadas.

- No, no, ahora no...

- ¿Por qué no?

- Usted sabe. Si mi novio descubre...

- ¿Cómo? Él no sabe donde estamos. Nunca descubrirá nada.

- No sé. Tengo miedo...


Mais beijos, mais esfregação. A blusa dela misteriosamente cai sobre o painel. Mais dois gestos rápidos e o sutiã já estava pendurado no encosto de cabeça do banco, indo contra todas as leis da física.

- No...

- Sí... Apenas un poco...

- Tengo vergüenza...

- Veni...


Língua toca mamilo, percorre o busto, o pescoço (arrepios!), queixo e pára na boca. Línguas se entrelaçam novamente. As mãos dela percorrem as costas dele, passando pela nuca e parando em seus cabelos, agarrando-os com força. A mão dele acaricia seus seios.

- Está bien, pero no se olvides del forro*.

- Ponga para mí.

- Dá-me...

- Ahhh...


Roupas voam aleatoriamente, mesmo no espaço apertado. O banco do motorista desce, a mulher desgovernada sobe, costas no volante, cabeça no teto, joelho direito na porta, esquerdo no freio de mão. Ancas com ancas, segundos para encontrar a posição correta, movimento descendente. Arcada superiora morde lábio inferior.

- Ahh, síííí...

- Humm.


Gemidos se tornam grunhidos, grunhidos se tornam gritos. Unhas rasgam pele, curvim e carpete com a mesma ferocidade.

Tlec!

- Que pasó?

- Nada, vení, hummm...


Movimentos ritmados e claustrofóbicos. Êxtase, delírio, “sí, sís”, gritos, sacolejar, ruídos estranhos.

- ¡Oh, Dios mio!

- Sí, sí, casi...

- ¡No, bolludo! Abre los ojos!

- Casi, casi...


Ela desmonta num movimento rápido, jogando-se no banco do passageiro. O parceiro olha-a frustrado.

- ¿Que pasa?

- ¡Mira, estúpido! Haga algo, rápido!

- ¡Aaaaaahhhhhh!


Descubra o que aconteceu, clicando no link abaixo:
http://noticias.terra.com.br/popular/interna/0,,OI405151-EI1152,00.html

* "Está bem, mas não se esqueça da camisinha"(N.doA)

TRAGÉDIA URBANA EM SEIS ATOS

© Alexandre Fernandes Heredia


Um.

Não deu tempo nem de reagir. Foi no susto. O cara disse alguma coisa e atirou. Nelson não entendeu o que foi, apenas ouviu o estampido e a queimação em sua perna direita.

Dois.

De alguma maneira ele conseguiu ficar de pé. Clique de engatilhamento, mais um estampido, muita fumaça. O calor agora veio em seu braço esquerdo. Quem era aquele cara?

Três.

Em pânico, Nelson virou e tentou correr. A perna baleada fraquejou, mas ele manteve o equilíbrio parcialmente. Sua mente não conseguiu se concentrar em outra coisa além da fuga, mas seus ouvidos captaram um novo engatilhar. Suas costas desprotegidas receberam o impacto. Estacou por um instante, o sangue escorrendo pelos ferimentos semi-calcinados. Ainda de pé, deu mais dois passos vacilantes.

Quatro.

Era seu fim, ele sabia. Quando o novo impacto veio em seu único braço bom ele percebeu que iria morrer, independentemente do que fizesse. O que ele tinha feito para merecer aquilo? Sempre foi um cara calmo, tranquilo, nunca se meteu em encrenca.

Cinco.

Mais um impacto em suas costas. Sentiu o pulmão se encher de sangue. A garganta se inundou com o líquido borbulhante de suas veias destroçadas. Tentou falar, mas sua garganta só emitiu um gorgolejo repugnante. Quem era aquele cara?! O que ele tinha feito para ser executado daquela maneira? Era a primeira vez que ele vinha até o Jacarepaguá, e isso por causa de uma porcaria de um ônibus errado!

Seis.

Mesmo que os pulmões não estivessem inundados, ele não conseguiria falar mais nada, pois o sexto impacto destroçou sua garganta. Finalmente sem forças, Nelson caiu, rosto no asfalto. Sua mente nublada ainda ouviu o assassino apertar o gatilho mais duas vezes, mas aparentemente a munição havia acabado. Ouviu ainda uma outra voz gritando "Vâmu, vâmu, sujou, não é o cara!", mas seu corpo não reagia mais. Fechou os olhos, e pensou em sua mulher, grávida de 3 meses, que teria que criar seu filho sozinha no mundo. Tudo por causa da porcaria de um ônibus errado.

Descubra o final da história em:
http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI451866-EI316,00.html

SOLUÇÃO

©Alexandre Fernandes Heredia

- Senhor, por favor afivele seu cinto. Estamos numa zona de baixa pressão, e podem haver solavancos.

- Grazie.

- É a sua primeira vez em Bangcoc?

- Não, minha namorada vive aqui. Eu passo mais tempo aqui do que em casa.

- E por que você não muda de vez?

- Estou fazendo um tratamento médico em Roma. Não posso me mudar.

- Em Bangcoc temos excelente hospitais...

- É, mas meu caso é grave. Grave demais até.

- Posso perguntar o que é?

- Leucemia.

- Sinto muito.

- Não precisa se desculpar, ragazzo. Não é culpa sua. E eu estou bem. Depois de hoje, esses problemas serão coisa do passado.

- É assim que se fala! Sabe, uma prima minha foi diagnosticada com câncer de pele. Ela não tratou e deu aquele lance, como é que chama mesmo?

- Metástase.

- Isso. Ela está mal, mas ainda não desistiu. Pessoalmente eu duvido que ela sobreviva, mas não se pode perder a esperança, não é mesmo? Não concorda? Senhor? SENHOR!

http://ultimosegundo.ig.com.br/materias/mundo/1821001-1821500/1821228/1821228_1.xml

SAMANTA

© Alexandre Fernandes Heredia

Samanta descobriu que tinha um sonho.

Tinha treze anos, e decidiu que se tornaria atriz. Viu uma menina de sua idade numa novela, numa cena dramática que quase a fez desabar em lágrimas junto com a personagem. Aquilo a tocou de tal maneira que sabia que seu futuro só seria feliz caso realizasse aquele sonho.

Desligou a televisão assim que os primeiros créditos surgiram. Estava radiante, exultante. Havia descoberto sua vocação! Quantas pessoas passam a vida procurando por um sentido, que ela, tão cedo, já havia encontrado.

Seus pais não retornariam antes da meia noite. Isso dava para ela tempo de se divertir sem inibições. Foi até o quintal e jogou para o alto as pantufas, dançando descalça uma música imaginária, que ela acompanhava com "lá-lá-lás" divertidos. Pensou na cena que a emocionara. O capítulo era um especial de Natal, recontando uma fábula de Dickens nos tempos modernos. Ela não sabia disso quando assistira, mas era o que era.

Num lampejo de inspiração, começou a repetir as falas da menina da história. As partes que ela não lembrava, inventava. Esforçou para dar uma entonação dramática à voz, transparecer a emoção da personagem. Algumas vezes não ficou satisfeita e obrigou-se a repetir, até a perfeição. E então chegou na cena do choro, o ápice dramático, o final inesquecível.

Tentou, mas não conseguiu. Tentou de novo, e nada. Os olhos cerraram, mas as lágrimas não correram. Refez a cena, tentando imaginar a emoção que a personagem sentia. Nada.

Normalmente ela desistiria, mas aquele era seu sonho, sua vocação! Ela tinha que chorar, custasse o que custasse. Mordeu o lábio inferior até doer. Sentiu os olhos umedecerem, mas não o suficiente para formar uma lágrima. Irritou-se. Refez a cena, mas quando chegou o momento do choro, suas glândulas estavam secas.

Como que gozando de sua cara, uma chuva intensa começou a cair. Uma autêntica tempestade de verão. Ela gritou, frustrada. Relâmpagos iluminaram o céu, como que rindo de seu fracasso. Irritada, chutou e socou o ar, xingando a plenos pulmões. Acabou tropeçando no fio das luzes da árvore de Natal que sua mãe montara no quintal, que caiu estrepitosamente, chegando até a soltar o plugue da tomada.

Samanta ficou olhando a árvore tombada e apagada no chão enquanto a chuva continuava a cair, ensopando seu pijama e escorrendo por seus cabelos. Sentiu-se horrível por ter causado aquele acidente, e rapidamente correu até o pinheiro de plástico, erguendo-o.

Estava deprimida. Fracassara em sua primeira tentativa, e aquilo havia devastado-a como apenas os adolescentes conseguem se devastar.

Entrou na área seca da casa, e enxugou-se com um pano de prato. Pegou o plugue da extensão e secou-o também. Ajoelhou-se ao lado da tomada, encostando o topo da cabeça na parede à sua frente. Antes que conseguisse religar as luzes de natal, sentiu as lágrimas finalmente escorrerem por suas bochechas. Mas não eram lágrimas cenográficas, eram de frustração e revolta, de angústia sem nome ou rosto. Ela nunca seria uma atriz se não conseguisse chorar quando quisesse. Seu sonho estava morto antes de começar.

Displicentemente tentou enfiar o plugue na tomada, mas ele estava torto, e ela forçou a entrada. Uma lágrima alcançou o limiar de seu rosto e precipitou-se. Um grande clarão surgiu pela janela da cozinha ao mesmo tempo que a lágrima solitária aterrissava no dedo da menina que sonhava em ser atriz.

O que aconteceu a seguir, só saberá quem clicar no link abaixo:
http://ultimosegundo.ig.com.br/materias/brasil/1823501-1824000/1823919/1823919_1.xml

DIABÓLICAS

© Alexandre Fernandes Heredia

- Ele está chegando!

- Eu vi! Apaga a luz!

Clique. Passos apressados, farfalhar de tecido, silêncio.

Passos surdos, tilintar de chaves, mecanismo do ferrolho, ranger de porta. Passos firmes. Porta batendo.

Clique.

- Agora!

Gritos histéricos. Uma pancada forte, com o som de um melão se quebrando. Urro de dor. Mais pancadas, mais gritos. Libertação e surpresa, êxtase e agonia, prazer e morte.

Constatação.

- Oh, meu Deus, o que a gente fêz?

- A gente acabou com ele, foi o que a gente fêz. Ele nunca mais vai te sacanear.

- Oh, meu Deus...

- Não faz essa cara! Se você chorar... Pára! Tá acabado, ponto. Pega as chaves da kombi.

- Eu...

- Vai, mulher! Não fica de bobeira!

Passos curtos e rápidos. Lona plástica se dobrando.

- Vem, me ajuda. Ele é pesado.

Gemidos de esforço. Tropeços em móveis. Porta novamente aberta.

Alternador eletrifica velas. Combustível inunda pistões. Explosão. Motor ligado.

- Toca pra São Mateus.

- Por que lá?

- Confia em mim.

Zumbido do motor. Uma fungada.

- Não faz isso. Ele mereceu. Agora somos só nós duas, livres.

- Ninguém merece uma morte dessas. A gente nem deu chance pra ele se defender...

- Se não fosse desse jeito a gente não pegava ele! Você sabe como ele é forte.

- É, mas ele chegou muito cedo. Falta muito tempo pra amanhecer.

- A gente espera, ué!

- Eu não quero ficar nesse carro com ele aqui dentro!

- Tá, e o que a gente faz?

[Descubra o final, acessando o link abaixo]
http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI394435-EI306,00.html